1º experimento
"vão gritar chega daqui a pouco pra você, você não vai se livrar, não vai conseguir... (sorrindo)
você acha?
acho.
mas isso é porque vocês são muito fortes, né?
brigado. sempre me dizem isso."
o que será que as pessoas esperam quando está pra começar? menina franzina entre 4 homens que se apresentam como fortes. a força que a mulher precisa pra se sentir segura, protegida, cuidada, amada, admirada, a fragilidade que o homem precisa pra demandar de seu poder e habilidade, alguém a quem manter, como bom projenitor. o cavalheiro e a donzela. mas....
no Corredor Cultural de Juiz de Fora o clima era de festa, de alegria, de abundância. várias coisas acontecendo ao mesmo tempo e a ânsia das pessoas que em nossa cidade não têm o hábito da grande quantidade de ofertas em tempo reduzido. quase meio noite, depois de várias cervejas, com os ânimos a caminho da subida, é anunciado nosso começo, e lá vão 4 cavalheiros a caminho da donzela. está tudo posto, em cima da mesa. já se sabe o que é esperado de cada um e não deveria haver surpresas. epa...! esquecemos de olhar embaixo da mesa...
a cada vez que vamos a público com a proposta desaprendo mais sobre todo esse complexo contexto das relações que envolvem homens e mulheres. quantas e quantas artimanhas são possíveis para a manutenção da lógica comum, até que ponto cada um é capaz de chegar pra garantir o seu lugar? vejo como é a outra extremidade dessa mesma linha, ela mesma, a da força e da fragilidade, do poder e da impotência, do caçador e da caça, da gana e do medo, da brutalidade e da sedução, as armas de início guardadas vão aparecendo e sendo tiradas uma a uma, ai que agonia, coitada, deixa ela sair, tá achando graça? não cede, ela é atriz!, ela vai quebrar, nossa, achei tão sexy, isso não mexe com você?, que isso, ela não sua, aqui dentro você só faz o que a gente permitir, e lá fora?? e lá fora??! há muito mais coisas entre o céu e a terra...
uma mulher, 4 homens, e um público sedento no entorno, com discurso de não aguento ou de quero mais, estão todos ali, cumprindo seus papéis, provocando, cedendo à provocação, alimentando com audiência, transitando entre outros afins.
tenho lido Nietzsche, sempre acabo tendo com ele. "Ver-sofrer faz bem, fazer-sofrer mais bem ainda". "Sem crueldade não há festa: é o que ensina a mais antiga e mais longa história do homem - e no castigo também há de muito festivo!" será que até castigo participa dessa festa? se sim, a quem será que cada um que está ali está castigando?
me coloco no lugar objetal que todos nós colocamos e somos tantas vezes colocados e várias vezes me vejo fora da roda assistindo e me impressionando com a cena, com o quanto de gozo o horror (ou a referência a ele) pode fazer brotar.
e acho que tudo fica tão vivo por vivermos tantas vezes com maior ou menor intensidade cada um daqueles gestos, daquelas reações, daqueles prazeres. reviver reafirma, independente de como isso vá reverberar (na busca continuidade ou mudança).
nesse ponto me vejo entre muitas tensões, de ideais utópicos a possibilidades concretas, desejos, possibilidades e impossibilidades (se é que estas existem) e precisamente aí, talvez a contra-gosto, não vejo como seguir sem voltar a Nietzsche "...essencialmente, isto é, em suas funções básicas, a vida atua ofendendo, violentando, explorando, destruindo, não podendo sequer ser concebida sem esse caráter."
difícil negar.
Difícil negar Nietzsche e as cenas cotidianas deste Projeto nas vidas. Isto me lembra o grito sempre alto de "CHEGA!" da platéia....
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